sexta-feira, 27 de julho de 2012

'SP não é pensada para bicicletas', diz especialista em traumas do HC

12/07/2012 07h01 - Atualizado em 12/07/2012 07h01



Casos graves de internação de ciclistas em instituto aumentaram no ano.
Em 2011, foram 10 internações; até junho de 2012, já chegam a nove.

Do G1 SP
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Diário Oficial do Estado de São Paulo (Foto: Reprodução)Capa do Diário Oficial do Estado de São Paulo
desta quarta-feira (Foto: Reprodução)
Jorge dos Santos Silva, chefe do grupo de trauma ortopédico do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas, afirmou ao G1 na noite desta quarta-feira (11) que a recomendação dele para que a população não utilize a bicicleta como meio de transporte ou para lazer nas vias de São Paulo se baseia exclusivamente na sua condição de médico que lida, cada vez mais, com casos decorrentes de acidentes envolvendo ciclistas na capital.
"Quero deixar claro que não tenho nada contra a bicicleta. Do ponto de vista da locomoção, é uma excelente opção como transporte e para a prática de exercícios físicos. Mas a cidade não é pensada para a bicicleta. A cidade é pensada, principalmente, para os carros", declarou.
Na edição desta quarta, o "Diário Oficial do Estado de São Paulo" publicou em sua capa reportagem sobre pesquisa da Secretaria de Estado da Saúde sobre o aumento do número de acidentes envolvendo ciclistas. No texto, foi reproduzida uma opinião do especialista do HC, que não recomendava o uso das bicicletas no trânsito.
A reportagem tem como título "Mais ciclistas, mais acidentes". "Não sei se a chamada foi a mais adequada", ressaltou. O texto no "Diário Oficial" aborda pesquisa divulgada em junho, que aponta que nove ciclistas são internados a cada dia em hospitais públicos do estado devido a acidentes de trânsito.“Para não colocar a vida de quem pedala em risco, recomendo não usar a bike no trânsito de São Paulo. É uma opção segura de lazer em cidades menores, parques públicos e em ciclovias instaladas na capital, aos domingos”, disse o médico, segundo o texto, que está disponível na página da Imprensa Oficial.
A recomendação foi feita com base no que ele tem observado em relação ao número de internações envolvendo ciclistas no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do HC, onde atua desde 1986. "Só tenho visto aumentar o número de acidentes com motociclistas e ciclistas."
Segundo ele, o número de ocorrências deste tipo atendidas pelo Hospital das Clínicas não aumentou, mas se tornaram mais graves. Em 2011, por exemplo, foram registradas dez internações no instituto para tratamento de traumas, enquanto que até junho deste ano ocorreram ao menos nove internações deste tipo.
"Diante deste quadro, é um alerta que, como médico, a gente tem que fazer. O trânsito e o sistema viário da cidade são problemáticos. Pela legislação, por exemplo, o motorista tem de manter uma distância de segurança (de 1,5 metro) do ciclista ao ultrapassá-lo. Como vai fazer isso com o trânsito congestionado? O ciclista acaba 'engolido' pelo trânsito. Por isso, não considero a bicicleta como uma forma de transporte segura", explicou.
Tiro no péDe acordo com Felipe Aragonez, membro do Instituto CicloBr, a publicação foi um "tiro no pé". "Foi um erro fatal. Nós temos reuniões constantes com o governo para tratar da situação das bicicletas na cidade e eles nos dizem que a bike é algo bom. Aí agora vem uma coisa dessas", disse ele. "Foi um atestado de que o governo não está dando a estrutura e a segurança necessárias para esse meio de transporte."
Ao longo do dia na quarta-feira, ciclistas criticaram a abordagem do tema em posts no Twitter e no Facebook. No fim desta tarde, o governo do estado de São Paulo divulgou nota afirmando ser favorável ao uso das bicicletas. A assessoria de imprensa lista ações de incentivo ao uso da bicicletas adotadas na gestão e afirma que o texto no "Diário Oficial" reproduz apenas a opinião pessoal de um especialista.

Segundo a Secretaria de Saúde, em 2011, 3,4 mil ciclistas vítimas de acidentes foram internados, gerando um gasto de R$ 3,25 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda de acordo com o levantamento, pelo menos um ciclista internado morre por dia.
Nota do governo
Veja abaixo a nota do governo:

"O Governo do Estado de São Paulo é absolutamente favorável à ampliação do uso de bicicletas na capital e em todo o Estado, não só para lazer como também para trabalho. Trata-se de meio de transporte não poluente e que traz qualidade de vida às pessoas.

Provas disso são os esforços já realizados e/ou em curso para aprimorar a oferta deste tipo de transporte à população. No dia 10 de fevereiro, por exemplo, foram entregues mais cinco quilômetros de extensão da ciclovia do Rio Pinheiros. Com 19 quilômetros de via paralela à Linha 9-Esmeralda (Osasco – Grajaú), essa ciclovia é a maior pista urbana fora de parques. Desde a sua inauguração, a via já recebeu cerca de 500 mil ciclistas.

Outro exemplo emblemático é a ciclovia que unirá oito municípios da Região Metropolitana de São Paulo (incluindo a capital). O Plano Cicloviário Metropolitano prevê a construção, até 2014, de 13 km para a utilização exclusiva de bicicletas nas cidades de Guarulhos, Santa Isabel, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Ferraz de Vasconcelos e Suzano. A ciclovia terá como destino terminais de trens e ônibus, universidades e centros comerciais. Com este equipamento, a estimativa é que o uso da bicicleta em São Paulo pode superar 4% de todas as viagens diárias realizadas.

Ao longo da Linha 3-Vermelha do Metrô, há a ciclovia Caminho Verde com 12,2 km de extensão, ligando as estações Corinthians-Itaquera e Tatuapé. Outra ciclovia importante, que também está sendo ampliada, liga o Parque Ecológico do Tietê ao Parque Jacuí, com 15 km de extensão.

O Governo de SP também estimula o uso da bicicleta por meio de bicicletários em estações de transporte coletivo. Atualmente, há 45 em operação: 16 no Metrô, 23 na CPTM e 6 na EMTU. Juntos, eles oferecem 8.281 vagas (636 de paraciclos e 420 vagas no Metrô, 6.202 na CPTM e 937 na EMTU). Inclusive, há possibilidade de usar as bicicletas dentro do Metrô.

Pelos exemplos citados acima, fica evidente que a opinião do ortopedista Jorge dos Santos Silva, publicada em reportagem do Diário Oficial, veículo jornalístico editado pela Imprensa Oficial, é estritamente pessoal e não reflete a opinião do Governo de São Paulo.

Assessoria de imprensa do Governo do Estado
11/07/2012"

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