sábado, 7 de janeiro de 2012

Operação da PM no centro de SP mira a oferta de crack, mas especialista diz que repressão é ineficiente.

 Por Gabriel Bonis


Sociedade



Gabriel Bonis

Cracolândia

06.01.2012 08:01

‘Ação da polícia parte de visão higienista’


Ação da polícia na Cracolândia dispersou usuários pelo centro de São Paulo. Foto: Marcello Casal Jr./ABr
Desde terça-feira 3, a Polícia Militar comanda a Operação Sufoco contra o tráfico de drogas na Cracolândia, centro de São Paulo. Dividida em três fases, a medida pretende “criar um ambiente seguro” para ações sociais e de saúde a usuários de crack, além de manter a região da Nova Luz, que passará por uma revitalização a ser concluída em 2026, sem novos grupos de dependentes e criminosos.
A ação é, porém, criticada por especialistas por comprometer o trabalho dos agentes da Secretaria Municipal de Saúde que tentam criar uma relação com os usuários para propor o tratamento voluntário. “Uma medida repressiva resulta no oposto do pretendido”, diz Dartiu Xavier, psiquiatra e diretor do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes da Unifesp.
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O especialista destaca que medidas repressivas sem propor auxílio ou ajuda aos dependentes são equivocadas e ineficientes. “As pessoas estão incomodadas com indivíduos se drogando na rua, mas se este é o grande mote para a ação, há uma medida higienista”, afirma. E completa: “Essa situação é atribuída à droga, mas a causa do problema é a exclusão social, ausência de moradia e saúde.”
A polícia pretende identificar traficantes e cortar a chegada do crack na região no prazo de um mês, com a ajuda de 100 policiais que atuam na área 24 horas por dia. Segundo a organização, houve estudos e reuniões preparatórias para a operação, que, ao diminuir a quantidade da droga nas ruas, espera forçar dependentes a procurar ajuda. “Os usuários vão simplesmente ir para outros bairros buscar novos fornecedores”, aponta Dartiu.
Rosângela Elias, coordenadora da Área Técnica de Saúde Mental da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, defende que a tática da polícia pode ser útil para apoiar usuários em tratamento. “Essas pessoas sabem onde encontrar o crack, mas se em um momento de ‘fissura’ enfrentarem dificuldades para achar a droga, isso pode ajudá-las a se esforçar mais contra o vício.”
A coordenadora afirma que agentes de saúde já acompanham a movimentação dos dependentes, dispersados após a operação da polícia no centro, para mapear a nova concentração dos usuários e manter o fornecimento de ajuda médica. Segundo Elias, apesar de ser uma operação em parceria com a PM, a Secretaria não participa das ações de repressão. “Temos objetivos diferentes, a polícia precisa enfrentar o crime, o tráfico de drogas e fornecer segurança pública”, declara. “Os agentes de saúde não podem se misturar com a repressão, pois trabalham com vínculos de confiança.”
Em 2009, a região também foi alvo de uma operação da polícia, que acabou abandonada por falta de recursos. Agora, a polícia espera conseguir aumentar a cooperação da Justiça para a internação compulsória. “Esse é o tipo de tratamento com a menor eficácia, tem até 98% de recaída”, destaca Xavier.
Elias aponta, contudo, que a prefeitura tem outras opções disponíveis para os dependentes. A cidade conta com 70 unidades de Centros de Atenção Psicossocial (Caps), serviços de atenção integrados na cracolândia e hospitais gerais em rede. “Construímos uma rede para dar maior atenção a essa população e vamos analisar os pacientes que forem chegando para ver a melhor forma de ajudá-los.”
Até a tarde de quinta-feira 5, a operação havia prendido quatro pessoas, realizado 538 abordagens e capturado dez condenados. Além disso, a PM informou que mais de sete toneladas de lixo foram removidas da região e prédios abandonados ocupados por dependentes foram esvaziados.

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